Introdução: Este trabalho investiga as demandas cognitivas das questões de Biologia do ENEM 2024 usando a Taxonomia de Bloom revisada. O ENEM é crucial para o ensino superior e avalia mais que conteúdo, exigindo raciocínio. A hipótese é que as questões de Biologia do ENEM 2024 se concentrarão nos níveis cognitivos mais elevados (Aplicação, Análise, Síntese, Avaliação), priorizando raciocínio e resolução de problemas sobre mera recordação ou compreensão. O objetivo geral é analisar esses níveis, e os específicos incluem classificar cada questão conforme a Taxonomia de Bloom (Lembrar, Compreender, Aplicar, Analisar, Avaliar, Criar), identificar a frequência de cada nível e discutir suas implicações para o ensino de Biologia no ensino médio. A metodologia é qualitativa com elementos quantitativos, analisando todas as questões objetivas de Biologia do ENEM 2024, usando a Taxonomia de Bloom revisada por Anderson e Krathwohl (2001) como principal instrumento. Objetivos: Analisar os níveis cognitivos das questões de Biologia presentes na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2024, utilizando a Taxonomia de Bloom como referencial teórico para identificar as habilidades de pensamento predominantes avaliadas no exame. Objetivos Específicos: Classificar cada questão de Biologia da prova do ENEM 2024 nos diferentes níveis cognitivos da Taxonomia de Bloom (Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação). Identificar a frequência e a distribuição das questões de Biologia do ENEM 2024 em cada um dos níveis cognitivos da Taxonomia de Bloom. Discutir as implicações dos níveis cognitivos predominantes nas questões de Biologia do ENEM 2024 para o ensino e a aprendizagem da Biologia no ensino médio. Materiais e Método: A pesquisa adota uma abordagem metodológica predominantemente qualitativa, complementada por elementos de análise quantitativa, para investigar as demandas cognitivas presentes nas questões de Biologia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2024. O referencial teórico central para esta análise é a Taxonomia de Bloom revisada por Anderson e Krathwohl (2001), que oferece uma estrutura hierárquica para classificar os níveis de complexidade do pensamento. O corpus de análise será composto por todas as questões objetivas de Biologia incluídas na área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias da prova do ENEM 2024. Essas questões serão obtidas diretamente das fontes oficiais divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), garantindo a autenticidade e a integridade dos dados analisados. A Taxonomia de Bloom revisada serve como o principal instrumento de análise, categorizando os processos cognitivos em seis níveis de complexidade crescente: Lembrar: Capacidade de recuperar informações e conhecimentos diretamente da memória de longo prazo. Compreender: Habilidade de construir significado a partir de diferentes tipos de mensagens (textos, gráficos, imagens). Aplicar: Competência para usar um procedimento ou conhecimento em uma situação específica e contextualizada. Analisar: Capacidade de decompor um material em suas partes constituintes e identificar as relações entre elas e com a estrutura ou propósito geral. Avaliar: Habilidade de fazer julgamentos baseados em critérios e padrões preestabelecidos. Criar: Capacidade de reunir elementos para formar um todo novo, coerente ou funcional, reorganizando-os em uma nova estrutura ou padrão. As etapas de coleta e análise de dados seguirão um protocolo sistemático para garantir a rigorosidade da pesquisa. A Etapa 1 consistirá na obtenção da prova do ENEM 2024 e na organização sequencial de todas as questões de Biologia identificadas. Na Etapa 2, cada questão será lida e interpretada minuciosamente, com foco na identificação do conteúdo biológico abordado, do contexto em que a questão é apresentada e, crucialmente, do tipo de demanda cognitiva exigida do estudante para que a resposta correta seja alcançada. Finalmente, na Etapa 3, cada questão de Biologia será classificada em um dos seis níveis cognitivos da Taxonomia de Bloom revisada, utilizando um protocolo de análise previamente estabelecido. A classificação será realizada por um pesquisador, com o objetivo de minimizar vieses e assegurar a validade do processo. Em situações de discordância na classificação de alguma questão, um processo de discussão e consenso será adotado para garantir a consistência e a confiabilidade dos resultados. Essa metodologia permitirá quantificar a distribuição das questões por nível cognitivo, oferecendo uma visão clara das habilidades de raciocínio que o ENEM 2024 prioriza na área de Biologia. Resultados: A análise quantitativa das questões de Biologia do ENEM 2024, utilizando a Taxonomia de Bloom revisada, revelou padrões importantes na distribuição dos níveis cognitivos. Embora a hipótese inicial previsse uma maior concentração em níveis superiores, os resultados apresentaram nuances que merecem atenção. Distribuição dos Níveis Cognitivos A amostra de oito questões analisada (Questões 10-17) demonstrou que a maioria das questões (50%) se concentrou no nível de Compreender. Este foi seguido pelos níveis de Aplicar (25%), e Lembrar e Analisar (ambos com 12,5%). É notável que os níveis mais elevados da taxonomia, Avaliar e Criar, não foram identificados nas questões de Biologia desta amostra. Nível Cognitivo Frequência Absoluta Frequência Relativa (%) Lembrar 1 12,5% Compreender 4 50,0% Aplicar 2 25,0% Analisar 1 12,5% Avaliar 0 0,0% Criar 0 0,0% Total 8 100,0% Discussão dos Achados A predominância do nível Compreender sugere que o ENEM valoriza a capacidade dos estudantes de interpretar, associar e explicar conceitos biológicos em diferentes contextos. Exemplos como a Questão 13, que pede para associar mudanças em sistemas ecológicos, e a Questão 15, que exige a explicação de funções adaptativas, reforçam essa tendência. Isso está alinhado à visão de que a avaliação deve ir além da memorização pura, buscando a assimilação de ideias (HOFFMANN, 2001). A presença significativa de questões no nível Aplicar (25%) também é um achado relevante. Questões como a 12 (localizar formação de compostos mutagênicos) e a 17 (interpretar heredograma) demonstram que o exame demanda a utilização do conhecimento em situações práticas e na resolução de problemas. Essa característica é consistente com o objetivo do ENEM de avaliar competências e habilidades, não apenas o conteúdo factual. No entanto, contrariando a hipótese inicial, a concentração nos níveis cognitivos mais elevados – Analisar, Avaliar e Criar – não foi expressiva. O nível Analisar apareceu em apenas 12,5% das questões (Questão 10, que exige análise da relação entre urbanização e saúde pública), e os níveis Avaliar e Criar não foram identificados. Embora o ENEM seja concebido para avaliar habilidades de ordem superior, esta amostra sugere que as questões de Biologia podem estar mais focadas em habilidades de compreensão e aplicação do que naquelas que exigem julgamento crítico profundo ou a criação de novas soluções. Isso pode indicar uma prioridade em garantir que os estudantes dominem a interpretação e o uso do conhecimento antes de demandar habilidades mais complexas, que, segundo Anderson e Krathwohl (2001), representam o ápice do pensamento cognitivo. Por fim, a presença do nível Lembrar (12,5%, como na Questão 11, que solicita a identificação de tecidos propensos à bioacumulação) indica que, apesar da contextualização do exame, a recordação de informações básicas ainda é um componente da avaliação. Essa constatação ressalta a importância de um ensino de Biologia que equilibre a transmissão de conteúdo factual com o desenvolvimento de habilidades de raciocínio. Considerações Finais: Este estudo confirmou que as questões de Biologia do ENEM 2024 priorizam, de fato, a compreensão e a aplicação de conceitos, contrariando parcialmente a hipótese de que haveria uma concentração maior nos níveis cognitivos mais elevados da Taxonomia de Bloom. A análise mostrou que metade das questões exige a capacidade de interpretar e associar ideias (Compreender), enquanto um quarto demanda a utilização do conhecimento em situações práticas (Aplicar). Essa predominância sugere que o exame valoriza a assimilação de conceitos em contextos reais, alinhando-se à proposta de avaliar competências e habilidades, e não apenas a memorização. No entanto, a ausência de questões nos níveis de Avaliar e Criar, e a presença tímida de perguntas que requerem Análise, apontam para uma limitação na avaliação de habilidades de pensamento crítico mais complexas. Embora o ENEM seja reconhecido por sua contextualização, a amostra analisada indica que as questões de Biologia podem estar mais focadas em garantir que os estudantes dominem a interpretação e o uso do conhecimento básico antes de exigir julgamento aprofundado ou a formulação de novas soluções. A persistência de questões no nível Lembrar também reforça a necessidade de um ensino de Biologia que equilibre a transmissão de conteúdo factual com o desenvolvimento de raciocínio. As implicações para o ensino são claras: as práticas pedagógicas devem continuar a se afastar da memorização pura, focando em atividades que estimulem a interpretação de dados, a resolução de problemas e a conexão entre diferentes temas. Esta pesquisa contribui cientificamente ao fornecer dados empíricos sobre as demandas cognitivas do ENEM, e socialmente, ao empoderar educadores e estudantes com informações que podem guiar o preparo para o exame. Em última análise, ao alinhar o ensino às demandas de raciocínio evidenciadas neste estudo, a educação em Biologia pode se tornar mais significativa, preparando os alunos para os desafios da vida acadêmica e para a cidadania ativa no século XXI.
Palavras-chave: ENEM. Biologia; Taxonomia de Bloom; Níveis Cognitivos.